No entanto, esta insuficiência de profissionais de fisioterapia afetos ao serviço público não se verifica apenas nos Cuidados de Saúde Primários, tal como afirma o presidente da APFisio, Adérito Seixas. Acrescenta ainda que “De acordo com o Instituto Nacional de Estatística, existem apenas 906 fisioterapeutas nos hospitais públicos. No global, considerando os hospitais públicos e os Cuidados de Saúde Primários, o número de fisioterapeutas no sistema de saúde público é pouco superior a mil. Vemos estes números com muita apreensão. É uma situação muito grave e que requer correção urgente”.
Um outro fator que dificulta a profissão de fisioterapeuta prende-se com a acessibilidade do cidadão aos cuidados de fisioterapia.
“O Estado investe na formação de elevada qualidade dos fisioterapeutas, mas ao mesmo tempo apresenta grande inércia na criação de condições que garantam o acesso do cidadão aos cuidados destes profissionais. Estamos a falar de profissionais autónomos, com autonomia consagrada na Lei, habilitados para serem profissionais de primeiro contacto, mas o Estado, através de várias disposições normativas, força o contribuinte a pagar consultas médicas adicionais antes de poder aceder aos cuidados de fisioterapia”, alerta Adérito Seixas, sublinhando que “esta é a realidade, tanto nos Cuidados de Saúde Primários como nos Cuidados Hospitalares”.
O valor da esperança média de vida aumentou para um valor ligeiramente acima dos 81 anos, em Portugal. No entanto, a APFisio recorda que dados do EUROSTAT indicam que o número de anos vividos sem problemas de saúde moderados ou severos é de apenas 58,6 anos. Para agravar a situação, segundo a PORDATA, existem 157,4 pessoas por cada 100 jovens, perfazendo um total de 21,7% da população com mais de 65 anos.
“Sabemos também que os problemas músculo-esqueléticos, de saúde mental, neurológicos, a diabetes, doenças respiratórias crónicas e doenças cardiovasculares são responsáveis por mais de 65% dos anos vividos com incapacidade na população portuguesa”, complementa Adérito Seixas, acrescentando que “será fácil de antecipar a elevada carga de doença atribuída às condições referidas previamente nesta população”.
Atendendo a que as condições crónicas de saúde e de multimorbilidade assumem cada vez maior relevância e impacto na vida das pessoas, das suas famílias e no sistema de saúde, e são responsáveis pelos anos de vida com incapacidade, o presidente da APFisio defende tratar-se de um indicador de saúde que “Portugal e os portugueses devem exigir ver melhorado, uma vez que essa melhoria depende das políticas de saúde assumidas pelos governantes”. Tendo por base relatórios internacionais, a APFisio acredita que os gastos de saúde poderiam ser entre 40 a 60% mais baixos se a tendência do aumento de esperança de vida fosse acompanhada pelo mesmo valor de melhoria da capacidade funcional.
Para combater esta situação, a APFisio acredita que é necessário promover uma adequada utilização dos recursos de fisioterapia, para obter ganhos em saúde nas pessoas com aquelas condições e ganhos de eficiência no SNS – redução de consultas médicas, redução de exames de diagnóstico, redução de procedimentos cirúrgicos, redução do absentismo laboral, retorno mais rápido à atividade e melhoria da participação social.
Em suma, o acesso aos cuidados de fisioterapia no SNS não é eficiente nem sustentável devido à insuficiência de profissionais de fisioterapia bem como à ineficácia do acesso dos utentes aos cuidados, o que prejudica tanto o SNS como o utente. O presidente da APFisio recorda ainda que “nos últimos anos, e de forma recorrente, a APFisio tem manifestado a sua preocupação e estratégias ao Ministério da Saúde, mas não temos observado uma alteração nas políticas de contratação de recursos humanos de fisioterapia”.