De acordo com a UA, o valor permitirá, durante cinco anos, desenvolver trabalho na área da bioengenharia de tecidos humanos e biomateriais avançados, nomeadamente na criação de estratégias para a regeneração de tecido ósseo, o que poderá ter impacto em casos de perda massiva ou fraturas extensas de osso.
“Sinto-me extremamente honrado com este reconhecimento extraordinário, e pelo apoio de todos os membros do grupo”, começa por dizer o professor catedrático no Departamento de Química e investigador no CICECO – Instituto de Materiais de Aveiro, uma das unidades de investigação da UA.
“Com esta bolsa, vemos assim reforçada a oportunidade de combinar investigação de base de elevado nível com soluções terapêuticas radicalmente inovadoras que poderão vir a ter impacto na qualidade de vida dos doentes”, acrescenta.
Já o Prof. Doutor Artur Silva, vice-reitor da UA para a área da Investigação, sublinha que esta bolsa é “mais um reconhecimento europeu da investigação de ponta” que se realiza na UA. Esta ERC Advanced Grant, aponta o responsável, “reconhece a qualidade do nosso docente e investigador e da investigação que realiza e é também uma prova da aposta que tanto a reitoria como o laboratório associado CICECO têm colocado nestes concursos a estas importantes e milionárias bolsas europeias”.
Uma das grandes inovações do projeto “REBORN: Full human-based multi-scale constructs with jammed regenerative pockets for bone engineering”, liderado pelo Prof. Doutor João Mano, prende-se com a utilização de proteínas obtidas a partir de tecidos recolhidos durante o parto, e normalmente descartáveis, como a membrana amniótica e o cordão umbilical. Estas servirão de base para a construção de dispositivos altamente hierarquizados, desde a nano à macro-escala, com uma grande capacidade de gerar tecido ósseo mineralizado e promover a sua vascularização.
A entidade adianta que desses “tecidos perinatais, também será possível retirar células que desempenharão um papel fundamental na construção dos tecidos em laboratório. As células serão introduzidas dentro de pequenas ‘placentas’ artificiais que, ao fornecerem sinais bioquímicos e mecânicos adequados, fomentarão a formação de micro-tecidos de forma completamente autónoma. A aglomeração dessas ‘bolsas regenerativas’ de forma controlada no espaço permitirá o desenvolvimento de tecidos tridimensionais à escala dos defeitos ósseos reais, com grande precisão geométrica”.
Além das aplicações in vivo, a UA prevê que estes dispositivos inovadores possam também servir como modelos de doenças de dimensões e especificações semelhantes aos dos tecidos reais, a fim de testar novos fármacos e terapias, podendo ser vistos como alternativa aos ensaios com animais ou aos testes clínicos.
Em 2019, já haviam sido atribuídas três bolsas para investigadores do CICECO, entre as quais duas bolsas de consolidação (Consolidator Grants, ERC-CoG) e uma bolsa de prova de conceito (ERC-PoC).
Este ano, o ERC atribuiu bolsas avançadas a 185 investigadores, dos 1881 que concorreram, num valor total de 450 milhões de euros ao abrigo do programa de financiamento europeu Horizon 2020. Além incentivar a investigação, os novos projetos irão empregar cerca de 1800 estudantes de doutoramento e de pós-doutoramento.