Dada a sua alta taxa de incidência, o cancro do pulmão é o que mais mata em Portugal, começa por apontar o Prof. Doutor António Araújo, da Ordem dos Médicos. “É uma doença fortemente associada ao consumo de tabaco – mais de 80% dos casos -, por isso é em larga medida evitável”. Portanto, “se conseguirmos diminuir o consumo de tabaco conseguiremos diminuir a incidência de cancro de pulmão e, consequentemente, reduzir a taxa de mortalidade desta doença”.
Para tal, como explica o médico, o projeto estando a combater a iliteracia da população portuguesa sobre esta doença está, simultaneamente, a combater os fatores de risco e de mortalidade, uma vez que agrega as entidades em torno de um objetivo comum.
No entanto, este é apenas “um primeiro passo de um longo caminho a percorrer”, remata o oncologista, dando exemplos de algumas medidas que podem ajudar neste processo. “Partilhar informação e pareceres que possam influenciar os decisores políticos, para que possam introduzir os conceitos de vida saudável e de não fumar nas escolas, criar consultas de cessação tabágica em horário pós-laboral e comparticipação de medicamentes que ajudem a deixar de fumar”.
Na visão do Prof. Doutor Vítor Rodrigues, presidente da LPCC, o compromisso agora assinado possibilita um “melhor acompanhamento dos sobreviventes do cancro do pulmão que, neste caso, têm uma sobrevivência inferiores em relação a outras localizações tumorais”. Além disso, permite que a “prevenção primária consiga ser mais localizada, dirigida e eficaz”, somando mais casos diagnosticados precocemente. A médio prazo, o Prof. Doutor Vítor Rodrigues acredita “que seja possível o rastreio desta doença” a nível nacional, tal como acontece com outros cancros.
Em nome da Pulmonale – outra das associações envolvidas neste projeto – falámos com a presidente da organização, a Dr.ª Isabel Magalhães, que garante o sucesso desta Aliança. “Pode impactar de uma forma muito importante a melhoria da quantidade e qualidade de vida do doente com cancro do pulmão”, afirma. “Só com o esforço de todos é que conseguimos ter resultados que se traduzam em melhorias”, conclui.
Na perspetiva do Prof. Doutor António Morais, presidente da SPP, a Aliança deve atuar sobre três modelos - prevenção, abordagem diagnóstica e novas perspetivas terapêuticas – e, por isso, deve-se colmatar a iliteracia da população portuguesa sobre esta doença.
O pneumologista ressalva ainda a importância da evolução dos tratamentos no prognóstico destes doentes. “Atualmente, as perspetivas terapêuticas não têm, absolutamente, nada a ver com as que tínhamos disponíveis há 10 anos e até às que tínhamos há cincos anos”, explica. “Temos mais armas terapêuticas e mais eficácia, conseguimos efetivamente dar um prognóstico melhor ao doente”.
Em entrevista à News Farma, a Dr.ª Ana Figueiredo, do Grupo de Estudos do Cancro do Pulmão, mostra-se claramente satisfeita e confiante nesta Aliança, uma vez que acredita que “o trabalho em conjunto funciona sempre melhor porque se reúnem os esforços” entre todos os profissionais de saúde envolvidos nesta área e, por isso, os que estão mais próximos dos desafios desta realidade.
A especialista afirma então que seja fundamental “avisar as pessoas dos riscos que correm”, usando o tabagismo como o principal fator de risco de cancro do pulmão. “A população deve ainda estar atenta aos sinais e sintomas associados a esta doença oncológica”, conclui.
Sete em cada 10 portugueses consideram que devia existir mais informação sobre o cancro do pulmão
Durante a apresentação do projeto na Fundação Oriente, em Lisboa, foram ainda apresentados os resultados de um inquérito à população sobre perceções face ao cancro do pulmão, uma doença que vitimou 4.600 portugueses em 2018.
O estudo revela que 34% dos inquiridos admite ter um conhecimento muito limitado sobre o cancro do pulmão, 39% um conhecimento intermédio e 19,5% diz ter algum conhecimento. Apenas 8,8% admite ter um "elevado conhecimento" sobre esta doença.
Em relação aos tratamentos, o inquérito conclui que “quanto menor o grau de instrução dos inquiridos, maior o seu desconhecimento sobre as opções terapêuticas” para o cancro do pulmão.
O inquérito decorreu entre os passados dias 14 e 20 de janeiro e foi realizado a uma amostra representativa da população portuguesa com mais de 18 anos, com telefone fixo ou móvel, constituída por 600 questionários.