Ainda que considere que Portugal se encontra “relativamente bem” quando comparado com os países considerados pela SPC como os “mais próximos relativamente à doença isquémica do coração”, no caso do AVC e das suas consequências, como os “anos de vida perdidos ajustados por incapacidade e vividos com incapacidade”, o Prof. Doutor Victor Gil acredita que há um longo caminho a percorrer. De acordo com o estudo, Portugal encontra-se na 25.ª posição entre as mulheres e na 28.ª entre os homens.
O Prof. Doutor Sérgio Baptista, coordenador do Gabinete de Estudos da SPC, apontou na apresentação dos resultados que, “em termos de AVC, é preciso intervenção”, de modo a reduzir o impacto na mortalidade, superior à de todos os países da Europa, mas também nos anos de vida perdidos e na vivência com incapacidade. Contudo, Portugal apresenta bons resultados quanto à esperança média de vida e ao impacto da doença coronária na mortalidade e anos de vida perdidos ajustados por incapacidade e vividos com incapacidade. O mesmo se verifica quanto ao impacto da doença cardíaca hipertensiva.
“Estamos bem no tabaco e relativamente bem na obesidade, embora já haja a identificação de excesso de peso na população portuguesa que preocupa, mas em comparação com os outros países estamos bem. Não estamos bem, de todo, na diabetes, o que é um aspeto importante, e estamos muito mal nos hábitos de exercício físico”, salienta o presidente da SPC, referindo-se aos fatores de risco das doenças cardiovasculares e do seu panorama em Portugal, também realçados na intervenção do coordenador do Gabinete de Estudos da SPC.
A nível de recursos, Portugal tem um número elevado de hospitais com aparelhos de TAC e ressonância magnética nuclear. Também apresenta valores elevados no que toca à implantação de pacemakers permanentes, desfibrilhadores, sistemas de ressincronização cardíaca e procedimentos de eletrofisiologia. Contudo, há um deficit de camas nos serviços de Cardiologia e Cuidados Intensivos Cardíacos, assim como de programas de reabilitação cardíaca intra e extra-hospitalar, aspeto “muito mal representado em comparação com outros países europeus”, refere o presidente.
Portugal apresenta “um grande desequilíbrio” entre as subespecialidades
No que diz respeito à Cardiologia e às suas subespecialidades, Portugal ocupa o 10.º lugar em 44 países quanto ao número total de cirurgiões cardíacos e o 19.º no que toca o número de cardiologistas. Ainda assim, verifica-se um grande desequilíbrio entre as subespecialidades, posicionando-se no 11.º lugar em 35 países quanto ao número de electrofisiologistas, mas ocupando a 34.ª posição em 42 países nos cardiologistas de intervenção. Nesse sentido, o responsável realça as melhorias que têm que ser feitas, particularmente na Cardiologia de Intervenção e na Arritmologia.
A intervenção do Dr. António Sales, secretário de Estado da Saúde, deu por terminada a sessão, sublinhado a “responsabilidade de refletir o presente e de projetar o futuro”. A aposta passa por uma nova abordagem à prevenção, “desde os primeiros anos de vida”, no reforço dos recursos humanos e na promoção da literacia em saúde, de modo a tornar o “SNS mais justo e inclusivo para que responda às necessidades da população”.
Os dados que constam na análise foram recolhidos a partir de entidades como a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), Banco Mundial, Organização Mundial de Saúde (OMS), e registos nacionais, pelo que, segundo o Prof. Doutor Victor Gil, “são dados necessariamente heterogéneos”. Contudo, o presidente da SPC garante que procuraram “ter o maior rigor possível”, aconselhando-se junto de pessoas da Escola Nacional de Saúde Pública e da Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Infarmed), por exemplo.
Como sociedade científica, o presidente refere que foi feito “este esforço numa primeira reflexão”, acrescentando que “há vontade de continuar a trabalhar os números e continuar a investigar um pouco melhor”, parecendo ao responsável que houve recetividade por parte da tutela de trabalhar com a SPC, “para que [a informação] possa ser utilizada e trabalhada a bem da população”, conclui.