Endocrinologistas alertam para os perigos dos suplementos hormonais antienvelhecimento

29/03/19
Endocrinologistas alertam para os perigos dos suplementos hormonais antienvelhecimento

Face à recente proliferação de terapêuticas hormonais no âmbito da designada “Medicina Anti-Ageing”, a Sociedade Portuguesa de Endocrinologia Diabetes e Metabolismo (SPEDM), o Núcleo de Estudos de Geriatria da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (GERMI), o Colégio da Especialidade de Endocrinologia e Nutrição (CEEN) e o Colégio da Competência de Geriatria (CCG) alertam para os perigos do uso abusivo destes suplementos.

 

“O envelhecimento é um fenómeno natural em que existe um declínio progressivo das capacidades de vários sistemas ou órgãos. Este declínio pode estar associado a diminuição da qualidade de vida das pessoas, pelo que a Medicina sempre tentou reduzir as suas consequências, com o objetivo final de preservar a saúde e a funcionalidade”. 

Como explicam as quatro entidades, “nos últimos anos temos assistido à proliferação de terapêuticas não aprovadas para tratar problemas relacionados com o envelhecimento. A falta de aprovação deve-se ao facto de não ter sido demonstrada eficácia e/ou colocarem em risco a saúde. Estas terapêuticas são vulgarmente designadas por “alternativas” ou “não-convencionais” e são utilizadas no contexto da chamada “Medicina anti-envelhecimento” ou “Anti-ageing”. São também utilizados os termos “Modulação hormonal” ou “Hormonas bio idênticas” para designar a administração de substâncias com efeitos no sistema endócrino, as quais nem sempre são controladas pelas entidades reguladoras do medicamento ou são utilizadas fora das indicações para que foram aprovadas”.

“Os agentes promotores destes termos muito publicitados incluem, não só naturopatas, fisiologistas e outros sem formação reconhecida na área da Saúde, mas também médicos sem formação específica e reconhecida na área. Salienta-se que estes agentes promovem a utilização destes compostos mesmo quando os níveis hormonais são normais para a idade, ultrapassando a indicação geral de os utilizar quando os níveis hormonais são insuficientes”, adiantam.

De entre as substâncias mais utilizadas neste contexto, os especialistas destacam a hormona do crescimento, os estrogénios, a testosterona e a dehidroepiandrosterona (DHEA).

 

Recomendações

Neste sentido, a SPEDM, o GERMI, o CEEN e o CCG recomendam que sejam cumpridas as seguintes recomendações:

- Alguns défices, perdas de funcionalidade e doenças crónicas relacionadas com o envelhecimento, podem ser prevenidos ou minorados pela adoção de medidas de estilo de vida saudável desde idades precoces;

- Os indivíduos idosos que sofram de doenças crónicas, várias patologias, perda de funcionalidade e requerendo tratamento com vários fármacos, devem ser avaliados por médicos com formação e experiência na área da Geriatria;

- Devem ser seguidas as recomendações e indicações terapêuticas publicadas por entidades científicas que representam profissionais com formação e experiência em matéria de tratamentos hormonais de substituição, designadamente as recomendações científicas emitidas por Sociedades de Endocrinologia, Geriatria, Ginecologia e Obstetrícia, Medicina Reprodutiva, Andrologia, Urologia e Oncologia;

- A designação de hormona “bio-idêntica” e a expressão “modulação hormonal” são conceitos vagos e publicitários e as suas alegadas vantagens não têm qualquer suporte em estudos clínicos robustos;- A designação de hormona “bio-idêntica” e a expressão “modulação hormonal” são conceitos vagos e publicitários e as suas alegadas vantagens não têm qualquer suporte em estudos clínicos robustos;

- A utilização destas formulações ditas “naturais” e “bio-idênticas” tem pelo menos os mesmos riscos da utilização desadequada dos tratamentos hormonais ditos convencionais, muitos deles também com origem natural;

- Qualquer tratamento hormonal substitutivo ou com outro intuito deve ser precedido de uma avaliação por médicos com formação e experiência na área da Endocrinologia, pois a interpretação dos parâmetros hormonais de cada indivíduo é frequentemente complexa e os tratamentos utilizados exigem monitorização adequada;

- Os tratamentos hormonais de substituição estão indicados em várias situações de substituição de défices hormonais comprovados, mas devem ser considerados os efeitos adversos do seu uso ou monitorização desadequados;

- O uso de tratamentos hormonais fora do âmbito substitutivo não revelou, até ao momento, que os benefícios pretendidos sejam superiores aos riscos. Assim sendo, os subscritores deste documento não recomendam o seu uso fora das situações de défices hormonais;

- Desaconselha-se o uso de tratamentos hormonais com intuitos meramente estéticos ou para alegado alívio de sintomas inespecíficos, sem um diagnóstico concreto ou fora do âmbito das indicações terapêuticas habitualmente recomendadas;

- Recomendam-se intervenções abrangentes e multidisciplinares, com impacto positivo comprovado no alívio dos sintomas incapacitantes e aumento da qualidade de vida.

 

Partilhar

Publicações