“Verificamos, em Portugal e no resto do mundo Ocidental, que, apesar das evoluções terapêuticas, a mortalidade por IC a médio e longo prazo é muito elevada. Para se ter uma ideia, ao fim de cinco anos, cerca de 70% dos doentes que estiveram internados por episódio de IC aguda tiveram um desfecho fatal. Estes números espelham bem a ‘malignidade’ desta condição”, refere o Dr. Paulo Bettencourt, presidente do encontro.
“Atualmente, cerca de 20% dos internamentos em Medicina Interna são por episódios de IC aguda”, acrescenta, reforçando que “todos estes números são factos que nos levam a refletir sobre a necessidade de termos abordagens que modifiquem adicionalmente o percurso sombrio destes doentes”.
Este é um dos objetivos da reunião do NEIC, onde vão ser abordados os avanços registados nos últimos anos, quer em termos de conhecimento, quer em termos de terapêutica, e a organização dos cuidados de saúde. Além disso, vai ser partilhada a experiência de Espanha com programas de IC.
O diagnóstico é outra das questões em destaque no encontro, uma vez que, como explica o Dr. Paulo Bettencourt, “em cerca de um terço das situações, o diagnóstico pode ser complexo. De facto, os sintomas e sinais de insuficiência cardíaca são partilhados por outras doenças, como a doença respiratória crónica, factos que podem dificultar a sua identificação”. Esta torna-se, por isso, defende o especialista, “o primeiro passo que necessita de ser robusto, para que possamos desenvolver as estratégias de abordagem para identificar a causa e planear o tratamento”.
Tendo em conta que são cada vez mais os doentes com vários problemas em simultâneo, este torna-se “um aspeto desafiante na IC”. Aqui, os doentes são sobretudo pessoas com mais idade, explica o médico, “padecendo de diversas outras patologias, como DPOC, diabetes, insuficiência renal e anemia, sendo que a maioria tem mais de duas comorbilidades associadas. Estes aspetos levantam problemas específicos a cada doente na sua abordagem, quer no que concerne ao seu percurso, quer na estratégia terapêutica”.
É por isso que os internistas, “ao terem um conhecimento privilegiado na abordagem do doente com pluripatologias, têm o potencial de se colocar como intervenientes relevantes na abordagem destes doentes”.