O Dr. Luís Campos, presidente da SPMI, sublinha que “somos o país em que os cidadãos mais recorrem às urgências hospitalares. Cerca de sete em cada dez portugueses recorre a estes serviços, enquanto a média europeia é menos de metade deste valor. Além disso, cerca de metade destes doentes poderia ter resposta fora das urgências”. Para o profissional “existe uma necessidade de diminuir os doentes nos serviços de urgência, mas para o conseguir é necessário ter noção da complexidade do problema”.
A culpa do excesso de recurso às urgências é normalmente atribuída à falta de médicos de família, no entanto isso é paradoxal, visto que Portugal é um dos países europeus com um maior rácio de médicos de família por mil habitantes. Também o acesso não é um fator determinante, porque nas regiões onde existem mais Unidades de Saúde Familiares não existem menos admissões nas urgências.
O Dr. Luis Campos refere ainda que há “inquéritos que concluem que os doentes procuram as urgências porque têm exames complementares, porque têm especialistas, pela proximidade, porque estão abertas 24 horas e porque confiam mais nos hospitais”.
No entanto, a SPMI defende que os hospitais também têm alguma quota de responsabilidade, pois poderiam criar mais alternativas para os doentes agudos não-urgentes, dentro dos próprios hospitais, como estipularem vagas nas consultas para doentes não programados ou investirem mais nos hospitais de dia.
Os idosos são identificados como os grandes utilizadores das urgências. Estes doentes são complexos, descompensam facilmente, e têm sido tratados de uma forma fragmentada, reativa, episódica e através das urgências.
O especialista sublinha que “se quisermos reduzir o recurso às urgências temos que aumentar a capacidade resolutiva dos cuidados primários, criar alternativas para os doentes agudos nos próprios hospitais, consciencializar os cidadãos para uma melhor utilização dos recursos em Saúde e implementar programas que promovam uma resposta proactiva, preventiva e de cuidados integrados, através de equipas que envolvam internistas, médicos de família e outras profissões, de forma a retirar os doentes das urgências”.
Estes programas teriam também a vantagem de diminuir os internamentos hospitalares, que tem riscos acrescidos, como é o caso da infeção hospitalar e do escasso número de camas em hospitais de agudos que Portugal apresenta, em comparação com o resto da Europa.
Por outro lado, a SPMI crê que deveriam criar-se alternativas ao internamento, em Centros de Medicina Ambulatória, que integrassem os hospitais de dia, programas de hospitalização domiciliária, unidades de diagnóstico rápido e os referidos programas de cuidados integrados.
A SPMI refere que está empenhada na implementação de formas inovadoras de cuidados que sejam melhores para os doentes e que contribuam para a sustentabilidade do sistema de Saúde.