Dia Mundial contra as Hepatites: “Está nas nossas mãos resolver o problema da hepatite C”

28/07/21
Dia Mundial contra as Hepatites: “Está nas nossas mãos resolver o problema da hepatite C”

Hoje, dia 28 de julho, assinala-se o Dia Mundial contra as Hepatites, este ano sob o mote “A hepatite não pode esperar”. A News Farma ouviu o Prof. Doutor Guilherme Macedo, presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (SPG), que expôs a realidade do impacto das hepatites tanto a nível individual, como comunitário, passando ainda pelo objetivo estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) quanto à sua eliminação até 2030, que considera “estar nas nossas mãos”. Veja o depoimento.

Com uma prevalência estimada de cerca de 1% em Portugal, os vírus B e C são os mais frequentes das cinco variantes do vírus da hepatite. Segundo o Prof. Doutor Guilherme Macedo, no que toca a hepatite C, “tem havido uma pressão adicional devido à necessidade e oportunidade da cura que a nova medicação consegue conferir”, estimando-se que haja “40 mil portugueses por identificar, tratar e curar”.

“Estes números são muito importantes, porque refletem a realidade nacional, integrada numa outra realidade: estima-se que 350 milhões de pessoas estejam infetadas no mundo pelo vírus da hepatite B, e 75 milhões pelo vírus da hepatite C”, acrescenta.

Em termos individuais, a patologia é responsável “por uma significativa percentagem de doença crónica avançada do fígado [cirrose]”, podendo, até, progredir para cancro. O estigma é também algo a considerar, sendo “muito característico daquilo que se passa na hepatite C e B; particularmente na C, porque há uma dimensão relacionada com comportamentos penalizados em termos civilizacionais –, por exemplo, o uso antigo ou ativo de drogas por via intravenosa”, esclarece o especialista.  

Para o gastrenterologista, a marginalização resultante leva a que a sociedade não encare a doença como um problema da comunidade, o que condiciona a identificação e a cura dos indivíduos com hepatite C, “e esta questão, que é claramente psicológica e social, afeta estas pessoas de forma significativa”.

Além disso, prossegue o presidente, a hepatite “obriga a um conjunto de implicações e de recursos económicos no sentido hospitalar que é considerável”, razão pela qual adianta que “a resolução da hepatite C em Portugal vai ter um enorme impacto favorável económico a curto, médio e longo prazo”.

Aproveitando o balanço da sensibilidade pública para as infeções víricas, fruto da pandemia da COVID-19, o Prof. Doutor Guilherme Macedo assegura que “a SPG tem um papel muito relevante no sentido de, por um lado, continuar a instruir os seus parceiros médicos das diferentes especialidades, para fazer compreender que isto é uma luta que não foi interrompida; é uma luta que deve continuar e que deve acelerar, para a resolução do problema que está nas nossas mãos, como é a eliminação da hepatite C”, sustenta.

Sobre o mote da OMS “A hepatite não pode esperar”, o presidente da SPG reforça que “estamos neste momento a conviver com uma pandemia esquecida, que é claramente a pandemia da hepatite C, porque está a aguardar que haja uma solução melhor para a pandemia da COVID-19”, o que, para o responsável, “é um erro”.

Devido ao estabelecido com a OMS no que toca a eliminação das hepatites víricas até 2030, o Prof. Doutor Guilherme Macedo sublinha que “as hepatites não podem esperar, porque há muitos milhões de pessoas que não estão ainda vacinadas para a hepatite B, e porque há milhões de pessoas em todo o mundo que morrem por hepatite C, por não terem acesso ao tratamento curativo”. No caso português, o responsável considera necessário que “os especialistas de MGF compreendam que a solução passa por eles no momento do diagnóstico, que deve rapidamente permitir o acesso à medicação”.

O presidente esclarece: “Isto é um projeto com o qual os gastrenterologistas se têm debatido há muito tempo, e penso que está a chegar a altura de que a nossa tutela política e administrativa compreenda e ponha no terreno esta atitude de conquista de uma infeção, cuja resolução passará, inevitavelmente, pela identificação de todas as pessoas infetadas e da cura de todos a quem nos propomos tratar; penso que será uma solução perfeitamente realista para os próximos anos em Portugal”, refere.

Ainda que a pandemia tenha inibido a terapêutica da hepatite C num primeiro momento, havendo uma redução de quase 60% dos tratamentos, o Prof. Doutor Guilherme Macedo frisa que “as consultas de Hepatologia estão a funcionar em pleno, e, portanto, não há nenhuma razão para que estes doentes não sejam encaminhados” e para que não se cumpra a meta estabelecida com a OMS no horizonte temporal declarado, conclui.

 

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