“Quando sofremos uma lesão medular, podemos ficar paraplégicos ou tetraplégicos; dependendo do nível da medula onde sofremos a lesão. Ao usar este medicamento na fase aguda, até quatro horas após a lesão, conseguimos notar vantagens em termos futuros: há uma melhor recuperação funcional”, sublinha o Prof. Doutor Nuno Silva.
O levetiracetam é um fármaco antiepilético usado no tratamento de crises parciais. No entanto, devido ao seu mecanismo de acção, pode também ser utilizado para promover neuropoteção. O Prof. Doutor Nuno Silva decidiu, por isso, testar a substância numa condição neurotraumática, em que é importante proteger o tecido nervoso após a lesão. Há quatro anos iniciou-se, assim, o trabalho experimental do seu aluno de doutoramento, Dr. Rui Lima, que foi agora publicado na revista do grupo Nature.
Esta função neuroprotetora é crucial. Após as lesões medulares, há uma libertação em excesso do neurotransmissor glutamato, que origina uma ativação exagerada dos neurónios – e que geralmente conduz à morte da maioria deles, impedindo o tecido neural de se manter funcional. “O que este fármaco faz é ajudar os astrócitos a recolher estes neurotransmissores em excesso e ‘levá-los’ novamente para dentro das células”, protegendo o tecido e dando mais hipóteses para que ocorra plasticidade neural e recuperação funcional.
“Nós observamos resultados promissores quer em lesões torácicas (que simulam pacientes paraplégicos), quer em lesões cervicais (que simulam pacientes tetraplégicos)”, destaca o investigador em neurociências. O próximo passo deste trabalho é perceber qual a janela terapêutica máxima – se o novo medicamento pode ser administrado apenas até quatro horas - ou mais – após a lesão.
Isto pode originar novas abordagens na clínica, como a administração do fármaco em urgência para proteger o tecido neural, na fase aguda da lesão. “Depois, numa fase em que a pessoa já está a recuperar, a função protetora dada pelo medicamento será essencial. Pode ser a diferença entre uma pessoa ser capaz de fazer reabilitação física ou não." E conclui o Prof. Doutor Nuno Silva, "é muito importante esta possibilidade de reabilitação para voltar a ganhar funções motoras”.