Doença de Alzheimer: “Consciencializar todos é fundamental”

21/09/22
Doença de Alzheimer: “Consciencializar todos é fundamental”

No âmbito do Dia Mundial da Pessoa com Doença de Alzheimer, assinalado hoje, 21 de setembro, a News Farma entrevistou a Dr.ª Maria do Rosário Zincke, vice-presidente da Alzheimer Portugal, para dar a conhecer os objetivos da associação e da iniciativa “Pela Memória Futura”.

“O manifesto tem por objetivo sensibilizar os decisores políticos e a comunidade em geral, para a importância de se reconhecerem as demências como uma prioridade nacional de Saúde Pública e social. Este reconhecimento deve ser uma prioridade”, começa por afirmar, explicando que, dentro das várias respostas necessárias, a Dr.ª Maria do Rosário Zincke destacou a importância da “implementação dos planos regionais da saúde para as demências”, sendo este um trabalho que ainda está na sua fase inicial, tendo o 1.º relatório ficado concluído e apresentado à Senhora Ministra da Saúde em finais de Julho passado.

Além disso, a vice-presidente da Alzheimer Portugal acrescentou que, no âmbito da implementação desta estratégia, “será fundamental concretizar a definição do percurso de cuidados. Alguém com sinais de demência deve ter a possibilidade de ser acompanhado por um profissional de saúde atento, que o encaminhe para o diagnóstico e para as diversas respostas de intervenção”. Pretende-se que a pessoa não se sinta perdida. “Esta realidade deve ser possível para todos”, reforça.

Um dos aspetos mais desafiantes é conseguir uma boa articulação entre os Cuidados de Saúde Primários, os cuidados hospitalares, os cuidados integrados e as associações de doentes, aponta, explicando que, para que existam as respostas de saúde e sociais adequadas, “é imprescindível existir uma boa articulação e comunicação entre estes diversos atores”.

Questionada sobre o que falta para a concretização no terreno dos Planos Regionais de Saúde para as Demências, a vice-presidente da associação, esclarece que “o primeiro relatório de acompanhamento desta implementação está feito. Aguardamos a sua publicação para comunicar o que já foi feito e o que falta fazer”.

“Há dois aspetos que gostava de realçar como positivos e que acredito que se venham a realizar. Um deles é a obrigatoriedade do registo informático dos diagnósticos nos cuidados de saúde primários e hospitalares, para permitir a identificação dos casos de perturbações cognitivas e melhorar a interoperabilidade dos sistemas de informação entre os níveis de cuidados, no sentido de permitir a elaboração de um Plano Individual de Cuidados, adaptado à situação das Pessoas com Demência."

Outro aspeto fundamental é a da atualização da Norma 53/2011, referente à "Abordagem Terapêutica das Alterações Cognitivas" que se refere às regras a seguir no diagnóstico e no tratamento de pessoas com problemas cognitivos. Estes aspetos estão contemplados na estratégia e aguarda-se a sua implementação. “Aguarda-se ainda a prevista capacitação dos profissionais de saúde nos diversos níveis, assim como as pessoas que trabalham nos equipamentos sociais e o público em geral, sendo a formação específica na área das demências essencial para melhores e mais especializados cuidados.”

Um dos problemas a combater, que a Dr.ª Maria do Rosário sublinha, são as assimetrias regionais, no que diz respeito aos cuidados e apoios prestados às pessoas com demência. “Existem assimetrias, por isso optou-se por cinco planos regionais, para cada zona ter presente a sua realidade e atuar de acordo com as suas especificidades”. "Um dos objetivos da associação é combater essas discrepâncias para que todos tenham acesso aos mesmos cuidados e com a mesma qualidade.”

Sobre os possíveis benefícios do envolvimento do setor social com o setor da saúde, a vice-presidente da associação, declara que “o setor social é muito importante” e dá o exemplo do trabalho que a Alzheimer Portugal tem desenvolvido. “Cuidamos de pessoas com demência e damos apoio aos seus cuidadores de uma forma muito específica. Conhecemos as caraterísticas da doença e de cada doente, assim como das suas necessidades e expectativas. Temos um conhecimento muito específico e diferenciado sobre esta doença, por isso devemos estar envolvidos. Além disso, prestamos serviços que o Serviço Nacional de Saúde muitas vezes não consegue prestar com a abrangência necessária, como é o caso do apoio psicológico. A Alzheimer Portugal organiza grupos de suporte e presta apoio psicológico. É importante que as pessoas com demência e os seus cuidadores conheçam estas respostas que são específicas e que desenvolvemos em diversos pontos do país.”

Por fim, a Dr.ª Maria do Rosário Zincke faz referência à importância de se desenvolver uma campanha nacional de sensibilização destinada a combater o estigma e a ignorância que ainda existe sobre a demência e sobre as pessoas que vivem com esta patologia. "Consciencializar todos é fundamental e é algo que também está contemplado na Estratégia da Saúde na Área das Demências, responsabilidade do Ministério da Saúde."

O Manifesto pela Memória Futura, iniciativa da Alzheimer Portugal, consagra quatro eixos fundamentais que destacamos nesta entrevista: Priorizar (reconhecimento das demências como prioridade nacional de saúde pública e social), Concretizar (implementação das políticas já consagradas), Consciencializar (campanhas de sensibilização) e Aproximar (articulação entre os diversos atores).

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