Existem várias doenças para as quais recorremos ao transplante de células estaminais do cordão umbilical nomeadamente em crianças, uma vez que a minha área está diretamente ligada à Oncologia pediátrica, e que são terapêuticas totalmente reconhecidas em Espanha como seguras e eficazes para determinadas patologias, especialmente de origem maligna.
Os diversos transplantes que temos feito com sangue do cordão umbilical têm-nos permitido perceber que quando o fazemos entre familiares geneticamente idênticos, o resultado é mais favorável e há uma melhoria comprovada da sobrevida e sucesso do tratamento.
No entanto, sabemos que os doentes que disponham do sangue do cordão umbilical guardado têm a oportunidade adicional de tratar de uma doença maligna e por conseguinte aumentar a sobrevida do doente. Também temos tido a oportunidade de comprovar que no caso das más formações genéticas, como a anemia de Fanconi e outras doenças congénitas, é mais favorável utilizar o sangue do cordão umbilical do que utilizar células estaminais da medula óssea ou do sangue periférico.
Naturalmente que temos também testado a utilização de células mesenquimais para o tratamento e controlo da atual pandemia da COVID-19, que tem juntado vários esforços de investigação em todo o mundo. Logo em março, quando se começou a evidenciar a necessidade de um tratamento para esta terrível pandemia, a grande maioria dos investigadores estava focado em encontrar a cura através de medicamentos e soluções farmacológicas.
Em abril, mais de 1500 procedimentos já estavam a decorrer para a procura de uma solução muito direcionada para uma vacina. Nesta altura, percebemos que em média a procura de soluções para o tratamento da COVID-19, através de células mesenquimais era, no entanto, muito menor quando comparado com as outras investigações em curso, não havendo mais do que 50 ensaios clínicos.
Em Espanha, realizaram-se apenas 12 estudos que procuravam soluções terapêuticas para a COVID-19, através da utilização de células mesenquimais. O que muitos de nós, investigadores com experiência em terapias celulares percebemos, foi que as propriedades das células mesenquimais do ponto de vista imunomodulador e também anti-inflamatório nos pareceu que podiam ter utilidade no combate a este vírus. No entanto, e devido à limitação de recursos, apenas dois dos ensaios clínicos com terapia celular estão a mostrar alguma utilidade, nomeadamente através da utilização de corticoides ou terapias antivirais.
Em súmula, a terapia celular e a terapia avançada são tratamentos complexos e que precisam de um grande investimento económico e essencialmente de regulação por parte das agências de medicamentos de cada país, instituições que podem determinar como e quando se podem utilizar estes tratamentos de terapia celular e nos quais se incluem as células mesenquimais. Reconhecer a importância destes dois últimos pontos é a chave, para continuarmos cada vez mais a crescer nesta área, e comprovar a eficácia e segurança deste tipo de terapêuticas.
Guardar o sangue do cordão umbilical quer num banco público, quer num banco privado, é, portanto, uma decisão que a ciência agradece, porque o potencial terapêutico das suas células estaminais é inegável.