Dia Mundial do Stress - A pandemia da saúde mental

Dr. Miguel Durães, presidente da Recovery IPSS
04/11/20
Dia Mundial do Stress - A pandemia da saúde mental

Caro leitor,

A International Stress Management Association (ISMA) assinala a data da consciencialização do stress na primeira quarta-feira de novembro, desde 1998. Os objetivos da consciencialização desta data passam por fornecer informação sobre o stress e por promover a importância do bem-estar físico e psicológico para os indivíduos, partilhando estratégias de o combater, quer a organizações (governamentais e não governamentais), quer às pessoas em particular.

 

Segundo a Organização Mundial da Saúde, outros organismos competentes e o Livro Verde, documento oficial da Comissão Europeia para os assuntos relacionados com a saúde mental, o stress e a depressão são já a maior causa de morbilidade nos países desenvolvidos. Aliás, o stress e a depressão já vitimam mais pessoas, atualmente, que os acidentes de viação e o vírus da imunodeficiência humana (HIV/SIDA).

Nos dias de hoje, são mais de 30% os europeus afetados por problemas relacionados com o stress, um número que continua sempre a aumentar. Aliás, as principais causas de baixas no trabalho são razões relacionadas com problemas de saúde mental, nomeadamente, são causa e consequência do stress nas pessoas. O stress tem custos intangíveis se o associarmos aos custos com a produtividade e está, claramente, comprovado que as pessoas não estão a aguentar um estilo de vida muitas vezes demasiado competitivo, sagaz e individualista/egocêntrico.

Existem dois tipos de stress, o eustress e o distress. O eustress é o stress bom, aquele que nos motiva a começar ou a continuar a trabalhar, a funcionar. Todos nós precisamos de algum stress nas nossas vidas, porque este nos “empurra” a sermos felizes, motivados, desafiados e produtivos. O problema está quando esse stress já não é mais tolerável e nos começa a afetar de forma significativa. Aí começam os problemas.

O distress, ou angústia de viver, é quando o bom stress se torna difícil de suportar ou lidar. A tensão aumenta, não há mais nenhuma diversão nos desafios que enfrentamos diariamente e passa a existir uma angústia insuportável. Este é o tipo de stress que a maioria das pessoas está familiarizada, o que leva à tomada de más decisões e a cometerem erros constantes consigo mesmos e/ou com outros (família, trabalho, grupo de pares, outros significativos, etc.). Apresenta como sintomas fisiológicos o aumento da pressão arterial, uma respiração rápida, taquicardia, tensão generalizada, entre outros. Os sintomas comportamentais incluem comer em excesso, perda de apetite, beber, fumar e mecanismos de defesa negativos (ex.: negação, evitamento, fuga aos problemas, isolamento).

Vivemos tempos completamente excecionais na humanidade e, em particular, no nosso país. E se o cenário era já em si inquietante e alarmante, o ano de 2020 acrescentou ainda mais um peso, este inesperado por todos, – uma crise sanitária global. As consequências da pandemia COVID-19 estão a ser devastadoras e existe uma relação causal muito significativa com o aumento de situações preocupantes em matéria de saúde mental.

Podemos, inclusive, afirmar que todos nós, de forma muito generalizada, vivemos aquilo que a teoria do ecobiodesenvolvimento designaria de “stress tóxico”. Algo que se desenvolve precisamente em ambientes caóticos e é um tipo de stress forte, frequente e com ativação prolongada no organismo sem mecanismos de proteção que possam reduzir os impactos dos efeitos ou consequências das situações stressoras. Ao experienciarmos situações de stress tóxico, há consequências que podem ser já observadas a curto prazo, como: irritabilidade, medos, transtorno do sono, diminuição das defesas do sistema imunitário; e a médio e longo prazo: transtornos de ansiedade, atraso no desenvolvimento e depressão.

Por estas razões, e porque muito se poderia escrever sobre o stress, deixo aqui o conselho de procurar ajuda. Não se isole e se estiver atualmente a passar por este tipo de problemas, fique sempre com a ideia de que não está sozinho/a. Procure apoio emocional junto dos que lhe querem bem e, especialmente, procure ajuda profissional e especializada.

 

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