I Congresso da Ordem dos Nutricionistas: “O grande momento da Nutrição em 2017”

Redação News Farma
20/11/17
I Congresso da Ordem dos Nutricionistas: “O grande momento da Nutrição em 2017”

Começa já amanhã, dia 21 de novembro, o primeiro Congresso da Ordem dos Nutricionistas, que se realizará no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. Em entrevista à News Farma, a Dr.ª Alexandra Bento, bastonária da Ordem dos Nutricionistas, explica quais os objetivos subjacentes à realização deste evento científico, avançado os temas que estarão em destaque neste que a especialista considera que será “o grande momento da Nutrição em 2017”.

News Farma (NF) | Em contagem decrescente para o primeiro Congresso da Ordem dos Nutricionistas (ON), quais os motivos que levaram à sua organização?

Dr.ª Alexandra Bento (AB) | Até este momento, a ON tem organizado diversos eventos, nomeadamente seminários temáticos, encontros nacionais de nutricionistas e cursos. No entanto, era necessário um momento para comunicar todas as questões da Nutrição, reforçando o compromisso de obrigação que os nutricionistas e a Nutrição têm no que diz respeito à Saúde.

NF | Qual o principal objetivo deste Congresso e a quem se destina?

AB | O Congresso destina-se a nutricionistas, assim como a todos os profissionais de saúde que direta ou indiretamente lidam com o tema da alimentação e da Nutrição. Por exemplo, médicos, farmacêuticos, psicólogos, enfermeiros, mas também engenheiros alimentares, dado que esta é uma área que deve funcionar em articulação com outros profissionais de saúde e outros setores relacionados. 

NF | “Encontros com a Ordem” é o título de uma das sessões do primeiro dia do evento. Em que consiste esta sessão?

AB | Este é um momento apenas para os nutricionistas. É uma sessão de debate das grandes questões da profissão. É um momento de aproximação dos nutricionistas à sua Ordem.

NF | Tendo em conta o programa científico do Congresso, quais os temas que gostaria de destacar?

AB | O programa é único e, por isso, todos os temas do Congresso têm relevância. É um programa de muita força, com uma pertinência e atualidade que se destacam. Este evento conta com a participação de conferencistas nacionais e internacionais com elevada trajetória profissional, académica e científica. Alguns dos conferencistas, em particular os internacionais, não marcam presença em qualquer tipo de evento, pelo que a maioria só está presente em acontecimentos que não são patrocinados e que têm um carácter de interesse público.

Começo por destacar a sessão “Políticas Alimentares e Nutricionais na Europa e em Portugal”, moderada pelo secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Prof. Doutor Fernando Araújo, e que contará com a presença do Prof. Doutor João Breda, nutricionista com responsabilidades em termos europeus na Organização Mundial de Saúde (OMS), e do Prof. Doutor Pedro Graça, diretor do Programa Nacional de Promoção da Alimentação Saudável da Direção-Geral da Saúde (DGS). Aqui teremos a oportunidade de conhecer a realidade portuguesa no que diz respeito à situação alimentar e nutricional, quais as políticas existentes e o que é que a OMS tem a dizer neste domínio.

Tendo a noção que a prática profissional dos nutricionistas só pode ser baseada na evidência científica, destaco também o painel “Da Emoção à Evidência”, que contará com nutricionistas nacionais e internacionais de referência na matérias. O Prof. Doutor Barrie Margetts, referência internacional em termos de epidemiologia nutricional, vem-nos falar do auxílio desta ciência para a promoção de uma alimentação saudável.

O “Direito da Humanidade a uma Alimentação Adequada” é também um tema com dimensão superior e, nesse sentido, contamos com um representante do Global Network for the Right to Food and Nutrition, que foi conselheiro do presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional do Brasil, país que é dos únicos, se não o único país, em termos mundiais, que tem este direito consagrado na constituição.

A Prof.ª Doutora Sylvia Escott-Stump, autora de um dos grandes livros de referência da Nutrição clínica a nível mundial, marcará também presença numa sessão dedicada às doenças crónicas não transmissíveis.

Portugal está abaixo dos níveis preconizados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) no que diz respeito aos gastos em prevenção de doenças. O Prof. Doutor Graham Macgregor, investigador do Reino Unido, fará o retrato do que é feito no seu país em termos da redução do consumo do açúcar e do sal e do que a evidência científica nos diz nesta matéria, num painel sobre “Saúde Global” moderado pelo Prof. Doutor Constantina Sakellarides, e o Prof. Doutor Julian Perelman, da Escola Nacional de Saúde Pública, fará o retrato destas questões para a sustentabilidade e equidade na saúde.

O Congresso terminará com um debate entre os stakeholders da área alimentar, um setor que envolve muitos atores, desde a produção e distribuição alimentar, passando pelo consumidor e pelos profissionais de saúde, não esquecendo as questões éticas e deontológicas que devem estar inerentes. O objetivo é promover um debate sobre o compromisso que todos estes stakeholders devem assumir, colaborando e evitando conflitos de interesses na causa alimentar, em prol da saúde individual.

NF | O Congresso tem também uma vertente prática com a realização de cursos no primeiro dia. Quais as mais valias destes momentos para os profissionais?

AB | Estes cursos foram desenhados somente para nutricionistas, sendo que só estes especialistas se podem inscrever, ao contrário do resto do programa do Congresso. Tentámos organizar cursos que vão ao encontro das grandes necessidades dos nutricionistas, nomeadamente nas áreas da Nutrição clínica, ferramentas de gestão, gestão da segurança alimentar, intervenção comunitária baseada na evidencia epidemiológica ou Nutrição na atividade desportiva.

NF | Os cursos são realizados em parceria com outras instituições. Qual o motivo desta cooperação?

AB | Para cada um dos cursos foi escolhida uma entidade que entendemos que era de referência e mérito nessa temática. Assim, têm a chancela da respetiva instituição, que acreditamos ser uma mais valia para quem se inscreve nos mesmos. É uma vantagem ter uma dupla certificação daquilo que é a necessidade formativa e a qualidade da formação.

NF | O Prémio Mérito Jovem Nutricionista tem como principais objetivos revelar talentos, motivar o espírito empreendedor e inovador na área da Nutrição. De que forma é que esta iniciativa irá ter impacto na vida dos profissionais?

AB | A profissão de nutricionista tem um elevado reconhecimento pela qualidade de formação, pela atualização profissional e pelo empenho exigido. Entendemos que devíamos vocacionar este Prémio para os jovens que iniciaram a sua atividade profissional, mostrando o seu empreendedorismo e a sua capacidade de “ver mais longe”. A ON também surge como um auxiliar na divulgação deste trabalho de mérito de quem é jovem e precisa de ser impulsionado. Ao impulsionarmos este jovem vencedor do Prémio, estamos a despertar o interesse de outros para serem inovadores, empreendedores, empenhados, resilientes, porque só assim se conquista um excelente lugar na profissão. Para além do Prémio, haverá também menções honrosas, porque acreditamos que assim conseguiremos entusiasmar os colegas e divulgar a excelência dos jovens que iniciam esta profissão e porque, de facto, tivemos excelentes candidatos.

NF | Quais as suas expectativas em relação ao Congresso?

AB | Sem dúvida que este será “o grande momento” da Nutrição em 2017. Se traçarmos um Congresso em que vamos fazer uma grande reflexão à volta da alimentação e Nutrição, e daquilo que é o papel dos nutricionistas nesta causa de Saúde, conseguimos concluir que só assim se traça o verdadeiro compromisso para esta área. Há quem tenha responsabilidades para além dos nutricionistas na saúde, ou seja, o Estado, e por isso é necessário que este as assuma. Estamos conscientes que, se queremos melhorar o estado de saúde da população, é necessário alterar os hábitos alimentares dos portugueses. Assim, é prioritário termos nutricionistas no lugares chave, que desempenhem a sua profissão para o bem da população. Neste sentido, a ON e os nutricionistas têm que se colocar ao dispor e ao serviço do Estado e da população.

NF | Há mais algum assunto que queira destacar?

AB | Gostava de mencionar que este é um Congresso sem patrocínios. A nossa intenção não é estar contra as marcas nem posicionar-se contra outros congressos ou instituições que realizam eventos patrocinados. É necessário perceber quais são os motivos que levaram a ON a tomar esta decisão inovadora. Por um lado, muitos dos conferencistas convidados apenas marcam presença em eventos não patrocinados e, por isso, preferimos ter este painel de oradores independente. Outro motivo prende-se com o debate final no Congresso, “Setor alimentar e compromisso com a Saúde: colaboração ou conflito?”, que queremos que seja um momento isento e independente. A ON tem optado por uma postura independente em relação a marcas, dado que as suas ações são de grande responsabilidade e interesse público. Dado o papel que a ON tem e deve ter, no processo de apoio às decisões políticas e legislativas, nomeadamente do Governo e da Assembleia da República, cremos que devemos continuar a manter a nossa imparcialidade.

 

Partilhar

Publicações