Balanço do 16.º Congresso do NEDVC da SPMI

Dr.ª M. Teresa Cardoso
07/01/16
Balanço do 16.º Congresso do NEDVC da SPMI

O Núcleo de Estudos da Doença Vascular Cerebral da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna realizou com enorme êxito o seu 16.º Congresso, reunião de referência a nível nacional na área da doença vascular cerebral. Este Congresso, que teve lugar no Porto, nos dias 27 e 28 de novembro último, reuniu especialistas de grande prestígio nas diferentes áreas de intervenção no AVC, tendo sido tratados temas da maior atualidade com debates e controvérsias que refletiram um enorme dinamismo da Medicina Interna na doença vascular cerebral.

Verificou-se uma grande afluência com 551 médicos inscritos e mais de 450 presenças confirmadas. A participação foi notoriamente multidisciplinar com um predomínio de internistas, inclui também neurologistas, cardiologistas, fisiatras, neurorradiologistas, imuno-hemoterapeutas e médicos internos em formação.

De realçar o patrocínio das 14 sociedades científicas que se juntaram à Medicina Interna e ao Núcleo num espelho do que é a abordagem multidisciplinar do AVC.

Cerca de 120 trabalhos científicos foram apresentados sob a forma de comunicações orais, posters e imagens em AVC, provenientes de vários pontos do país refletindo toda uma atividade científica de elevada qualidade, com estudos na população portuguesa. De sublinhar a enorme importância que o Núcleo atribui à investigação na doença vascular cerebral, estimulando-a com a atribuição de prémios aos melhores trabalhos submetidos e destacando os Centros com maior dinamismo.

Este ano o prémio “AVC e Investigação Clínica 2015” (estágio de três meses em Oxford) foi atribuído ao Dr. André Cunha pelo trabalho “Trombectomia mecânica nos AVC da circulação anterior: Experiência inicial de um Centro” realizado no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia, colaboração entre os Serviços de Imagiologia, Medicina Interna e Neurologia. O Prémio “AVC Investigação Básica 2015” (estágio de três meses em Santiago de Compostela) foi atribuído à Dr.ª Joana Infante pelo trabalho “Anemia na admissão como preditor de mortalidade após AVC isquémico” realizado no Centro Hospitalar Cova da Beira, Unidade de AVC. O prémio “AVC Inovação e Dinamismo 2015” destacou o Centro Hospitalar de Tondela Viseu pela qualidade, inovação e estímulo à investigação científica na área da doença vascular cerebral e foi atribuído à Dr.ª Catarina Oliveira a propósito do trabalho “Vamos relembrar... Tempo é cérebro.”

Foram atribuídas também quatro menções honrosas aos seguintes trabalhos por ordem aleatória:
- “Avaliação da disfagia numa unidade de AVC” Dr.ª Dulce Gonçalves, Centro Hospitalar Lisboa Ocidental, Hospital S. Francisco Xavier, Unidade de AVC;
- “Score de risco para deteção de fibrilhação auricular paroxística em doentes com AVC isquémico agudo” Dr.ª Mariana Alves, Centro Hospitalar de Lisboa Norte, Hospital Pulido Valente, Serviço de Medicina 3 Unidade de AVC.
- “Trombólise endovenosa: será a distância uma verdadeira condicionante? Realidade de um centro hospitalar nos últimos 5 anos”, Dr.ª Dalila Parente, Centro Hospitalar Tâmega e Sousa, Serviço de Medicina Interna.
- “Melhorar a avaliação da circulação colateral em doentes com AVC isquémico agudo usando angio-TC multifásico” Dr.ª Vanessa Carvalho, Hospital da Luz, Hospital Vall d´Hebron.

Todo o programa do Congresso representou um espaço de debate, controvérsia e inovação sobre o AVC abordando-se o que de mais recente se faz nesta área.

A trombectomia é agora o tratamento de primeira linha para o AVC grave com oclusão proximal de grandes vasos, até às seis horas após os primeiros sintomas. Os benefícios deste tratamento são tão significativos que se impõe como prioritária a adaptação e a reorganização dos cuidados de saúde no AVC agudo, assunto amplamente debatido em mesa redonda.

A eficácia e o perfil de segurança dos anticoagulantes diretos (ACOd) foi evidenciada pelos resultados da sua aplicação no mundo real e foi assunto de amplo debate.

A aprovação do idarucizumab, antagonista direto do dabigatrano, pela EMA (agência Europeia do medicamento) e primeiro antidoto a ser aprovado, exatamente no primeiro dia do Congresso foi objeto de divulgação e de jubilo.

O idarucizumab representa uma mais-valia nas situações de urgência cirúrgica e de hemorragia não controlada. O idarucizumab produz uma reversão eficaz, imediata, completa, sustentada e específica, sem efeito pro-coagulante. A propósito foi apresentado o REVERSE AD o primeiro ensaio clínico de avaliação de um agente de reversão específico para anticoagulantes diretos.

Foi realçada também a importância da correta seleção dos doentes para os anticoagulantes diretos com ênfase para a idade, peso e função renal. Controlar a hipertensão, prevenir a hemorragia gastrointestinal e evitar associação de AINS/ corticoides ou antiagregação plaquetária são medidas de prevenção de hemorragia da maior importância.

Os registos da vida real com anticoagulantes diretos sugerem resultados mais favoráveis de eficácia, segurança e maior adesão à terapêutica relativamente aos ensaios clínicos (XANTUS, estudo observacional). A importância de escolher o doente certo para o ACOd certo deve ser evidenciada.

Os anticoagulantes diretos são assim o novo gold standard da hipocoagulação na fibrilhação auricular (FA) não valvular, com diminuição do risco de AVC, de hemorragia major e da mortalidade. A aspirina não constitui uma alternativa terapêutica na FA. A hipocoagulação tem benefícios independentemente da idade, do risco de quedas e do score HASBLED.

Foi realçada a importância do rastreio e do diagnóstico precoce da FA. O seu não diagnóstico e subtratamento tem como consequências com grande impacto o aumento do risco de AVC, o declínio cognitivo e a demência. Outros temas de igual importância foram tratados desde “O stenting carotídeo em doentes assintomáticos de risco”, “o AVC recorrente” até à reabilitação no AVC.

De realçar também o importante espaço destinado à formação através do Cursos organizados pelo Núcleo. Os vários Cursos tiveram a sua lotação ultrapassada prova da sua qualidade e aplicabilidade prática.

O Núcleo de Estudos da Doença Vascular Cerebral congratula-se com o número crescente de sócios inscritos, constituindo um dos núcleos mais ativos da SPMI debate-se pela melhoria contínua de qualidade na prevenção e no tratamento do AVC em Portugal.

Artigo escrito por:
Dr.ª M. Teresa Cardoso
Presidente do 16.º Congresso do Núcleo de Estudos da Doença Vascular Cerebral (NEDVC) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI)
Coordenadora do NEDVC da SPMI
Especialista de Medicina Interna no Centro Hospitalar de São João

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