COVID Longo: sensibilizar para a necessidade de cuidados de saúde integrados

Dulce do Ó
27/03/25
COVID Longo: sensibilizar para a necessidade de cuidados de saúde integrados

No âmbito do Dia Mundial do COVID Longo, assinalado a 15 de março, Dulce do Ó, enfermeira da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal, alerta para a urgência do reconhecimento desta condição em Portugal e da necessidade de cuidados de saúde integrados para os doentes afetados. Num artigo de opinião, a especialista destaca que entre 10 a 20 % das pessoas infetadas com COVID -19 desenvolvem sintomas persistentes que comprometem a qualidade de vida, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Leia o artigo completo.

Neste mês de março, em que se realizam várias atividades de sensibilização sobre o COVID Longo, a nível internacional, torna-se premente que em Portugal se reconheça a existência do COVID Longo e que se planeie e disponibilize os cuidados adequados e individualizados às pessoas com esta condição.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 10 a 20 % das pessoas que foram afetadas pela COVID -19, tiveram ou têm COVID Longo.

O seu aparecimento não está relacionado com a gravidade da infeção, ou seja, pessoas com sintomas leves na infeção com COVID-19 podem também desenvolver o COVID Longo.

Os sintomas são variados, apresentam-se habitualmente em conjuntos de sintomas, que podem flutuar e mudar ao longo do tempo. De acordo com os estudos realizados, os mais frequentes são: a fadiga, o agravamento pós-esforço, os distúrbios do sono, a dificuldade respiratória e as alterações neurológicas. As pessoas podem também ter: sintomas cardiovasculares (coração e circulação) como aperto no peito, dor no peito, palpitações, sintomas gastrointestinais como a dor abdominal, náuseas e vômitos, diarreia, perda de peso e redução do apetite; sintomas musculoesqueléticos, como dor nas articulações, dor muscular; sintomas dermatológicos, como erupções cutâneas, perda de cabelo; sintomas neurológicos, nomeadamente, comprometimento cognitivo (“névoa cerebral”, perda de concentração ou problemas de memória), dor de cabeça, distúrbios do sono e depressão; e sintomas de neuropatia periférica (dor, sensação de alfinetes e agulhas no local e dormência), tonturas, comprometimento de mobilidade e distúrbio visual.

A evidência científica identificou cerca de 200 sintomas e o diagnóstico faz-se quando os sintomas da pessoa não são explicados por outro diagnóstico, e quando surgem cerca de 12 semanas após a infeção com vírus SARS-CoV-2.

O nível de intensidade de sintomas é variável, mas é frequente as pessoas ficarem com níveis de incapacidade que impossibilitam as atividades diárias, como ver televisão, ler um livro, estar ao computador, lavar loiça, aspirar, etc. Caminhar pela casa ou dar a volta ao quarteirão pode representar um esforço excessivo, e dar origem a um agravamento dos sintomas 12 a 48h após o esforço, ou seja, a designada exacerbação de sintomas pós-exercional. De salientar que esta situação pode ocorrer em atividades físicas, emoções negativas e positivas, convívios sociais, atividade intelectual e estimulação sensorial, como música ou luzes a piscar. Nestas situações habitualmente as pessoas têm de ficar em repouso horas ou dias para recuperar. A dor e a fadiga extrema são muito limitantes, pelas suas características e intensidades. Reconhece-se também que existem pessoas com COVID Longo que desenvolvem encefalomielite miálgica/síndrome da fadiga crônica (EM/SFC), uma condição grave, multissistêmica e incapacitante.

Desta forma, perante o descrito, compreende-se a necessidade do acompanhamento multidisciplinar e individualizado às pessoas com COVID Longo. No entanto, esta ainda não é a realidade nacional!

Por este motivo, foi fundada a Associação Portuguesa de COVID Longo – APCL, que tem como objetivo contribuir para o desenvolvimento de diretrizes para o diagnóstico e tratamento do COVID Longo, especialmente através da definição de critérios/sintomas para o diagnóstico, independentemente da inexistência de resultados de meios auxiliares de diagnóstico.

Simultaneamente, pretende-se contribuir para o reconhecimento pleno, administrativo, legal, e laboral da doença do COVID Longo. A existência de horários adaptados, com menor esforço físico, teletrabalho, podem contribuir para que as pessoas continuem ativas e produtivas, apesar das limitações impostas pela vivência com COVID Longo.

Junte-se a nós, APCL-Associação Portuguesa de COVID Longo, apcovidlongo@gmail.com

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