Esta autorização surge na sequência de vários ensaios clínicos realizados na Universidade de Duke, que demonstraram que o tratamento com sangue do cordão umbilical é seguro e pode ter efeitos benéficos em crianças com vários tipos de doenças neurológicas, como paralisia cerebral, perturbações do espetro do autismo, hidrocefalia, apraxia da fala e situações de lesão cerebral por anóxia ou hipóxia-isquémica, resultantes de um deficiente fornecimento de oxigénio ao cérebro.
“A concessão desta autorização é de extrema importância, pois significa que mesmo as crianças que não cumprem os critérios de elegibilidade para poderem participar num ensaio clínico da Universidade de Duke - geralmente bastante restritivos - podem ser tratadas utilizando o seu próprio sangue do cordão umbilical ou de um irmão compatível. Para que tal aconteça, é necessário existir uma unidade de sangue do cordão umbilical colhida e armazenada à nascença, num banco familiar, que deverá cumprir os critérios de qualidade exigidos pelo centro de transplantação”, explica a Dr.ª Bruna Moreira, investigadora do Departamento de I&D da Crioestaminal.
A administração de sangue do cordão umbilical não constitui a cura para estas doenças neurológicas, no entanto, pode significar uma melhoria da sintomatologia associada. A investigadora acrescenta ainda: “Considerando o número significativo de crianças com doenças neurológicas que enfrenta dificuldades diárias, esta autorização representa uma nova esperança e uma alternativa terapêutica que poderá ajudar a melhorar a sua qualidade de vida e dos seus cuidadores”.
Em Portugal, o autismo afeta cerca de uma em cada 1000 crianças em idade escolar e, a nível mundial, cerca de duas a três crianças em cada 1000 recém-nascidos têm paralisia cerebral. Existem cerca de quatro milhões de unidades do sangue do cordão umbilical armazenadas em bancos familiares em todo o mundo e estima-se que haja dezenas de milhares de crianças com lesões neurológicas que podem vir a beneficiar deste tipo de terapia, uma vez que a medicina regenerativa com base em células estaminais do sangue do cordão umbilical continua a evoluir no sentido de proporcionar uma melhor qualidade de vida a doentes que dispõem atualmente de opções terapêuticas com eficácia reduzida.