Futuro dos cuidados de saúde no cidadão 2030

Luìza Palma, "A Beneficência Familiar – Associação de Socorros Mútuos"
30/11/18
Futuro dos cuidados de saúde no cidadão 2030

Numa sociedade cada vez mais digital, o impacto da tecnologia na saúde está a proporcionar uma enorme mudança na forma de relacionamento entre os cidadãos, enquanto pacientes, e os médicos. Uma das coisas que os pacientes sempre quiseram, mas não conseguiram, é mais controlo sobre suas decisões médicas e, com o desenvolvimento tecnológico, essa aspiração torna-se cada vez mais uma realidade. A inovação tecnológica na área da saúde, traz, por exemplo, o desenvolvimento de aplicações (apps) que capacitam as pessoas a terem mais conhecimento e opinião sobre as decisões médicas, além de um papel mais ativo nos seus próprios cuidados de saúde. Ou seja, permitem colocar mais poder nas mãos dos pacientes.

 

Estamos, pois, perante uma mudança de paradigma que irá transformar o futuro da assistência médica para sempre. Neste novo contexto, os médicos assumem-se como “e-Doctors”, e aproveitam as vantagens da tecnologia para ultrapassar os desafios no relacionamento com o paciente, realizar diferentes tarefas e aperfeiçoar o cuidado com os serviços de saúde. Do ponto de vista do paciente, a tecnologia vai permitir-lhe economizar o seu tempo, o que dispensa com o médico e reduzir o tempo de sofrimento e dor.

Vantagens que parecem óbvias nesta dicotomia entre médico e paciente, com destaque para o aumento do controlo por parte dos pacientes e a forma como podem passar a desfrutar da sua saúde.  Por parte dos médicos, o recurso à informação através das tecnologias móveis está a tornar-se essencial para prestar cuidados de saúde oportunos e de elevado valor no mundo contemporâneo. A tecnologia (móvel) é uma ferramenta poderosa que pode ser usada pelos médicos para otimizar a gestão da informação, aumentar as tarefas clínicas quotidianas, otimizar a comunicação e a educação do paciente, promover o conhecimento médico e facilitar a conversação académica. Os e-Doctors poderão melhorar a eficácia, eficiência e segurança dos seus cuidados e aprendizagem. Vantagens que se traduzem também numa maior economia de custos para todos.

No entanto, as escolhas tecnológicas podem tornar as pessoas mais isoladas e solitárias, o que pode ter um impacto profundo na saúde e bem-estar. Com o envelhecimento da população e a pressão crescente sobre as famílias, a saúde e sistemas de assistência social, o combate ao isolamento social deve ser um dos temas mais prementes em termos de discussão de saúde pública, dos dias de hoje, bem como uma prerrogativa moral.

No paradigma da mudança tecnológica, reside o paradigma da desconetividade social e a urgência de pensar em modelos sustentáveis que melhorem o contacto real para as pessoas, assegurando a humanização. E aqui poderá residir a grande contradição: a inovação tecnológica, a telemedicina, ou o e-Doctor são pensadas para ajudar as pessoas mas podem provocar o efeito inverso, e muitas vezes, o que as pessoas apenas precisam desesperadamente é do contato humano real.

Neste novo contexto social para o qual caminhamos a passos largos, organizações mutualistas e de socorro mútuos, câmaras municipais em articulação com o Governo, são parceiros estratégicos da saúde. Conjuntamente, podem desempenhar um papel determinante no combate à solidão, na assistência à saúde, na disponibilidade de novas opções de escolha, na prevenção da doença, com base na humanização, e com valores reduzidos relativamente aos praticados. O desenvolvimento e a participação destes agentes é imprescindível na divulgação da literacia alimentar, da promoção do exercício físico, de hábitos alimentares saudáveis e de atividades que contribuem para a prevenção e controlo de doenças crónicas, permitindo melhorar a qualidade de vida.

O desenvolvimento do mutualismo na saúde, a partir de muitas associações muitas delas centenárias, pode ser uma das soluções. É através da inovação, de uma abordagem holística e do mútuo socorro que se encontra a capacidade de resposta à disponibilização de serviços básicos para todos, à proteção da saúde, à difusão e acesso ao conhecimento, servindo as pessoas e protegendo-as dos riscos da exclusão social e do isolamento, em suma, protegendo-as e ajudando a cuidar da sua saúde e seu bem-estar.

 

Partilhar

Publicações