Saúde Mental em debate: Entrevista ao Prof. Doutor João G. Pereira

Prof. Doutor João G. Pereira, presidente do II International Mental Congress
10/05/16
Saúde Mental em debate: Entrevista ao Prof. Doutor João G. Pereira

“O que pretendemos demonstrar é que as barreiras entre profissionais se podem esbater quanto existe uma curiosidade genuína em aprender e descobrir”, afirma-o o Prof. Doutor João G. Pereira, acerca dos objetivos do II International Mental Congress. A Saúde Mental vai estar no centro da discussão entre especialistas nacionais e internacionais, que estarão presentes a 21 e 22 de outubro, no Convento dos Congregados, em Estremoz. Conheça a antevisão deste evento científico pelo presidente da Comissão Organizadora.

News Farma (NF) | A Fundação Romão de Sousa organiza a segunda edição do seu International Mental Congress, em colaboração com o Instituto de Filosofia da Universidade Nova de Lisboa e a Universidade de Évora. No que consiste o evento científico?
Prof. Doutor João G. Pereira (JGP) | O Congresso faz parte de uma semana repleta de eventos sobre a Saúde Mental, contando com um curso de três dias em contexto residencial (pré-congresso) reconhecido pelo Royal College of Psychiatrists e que vem pela primeira vez a Portugal, e um Curso mais “tradicional” de dois dias na Universidade de Évora (pós-congresso) sobre a “Aplicação de Conceitos Teóricos de Psicoterapia em Contextos Clínicos Desafiantes” ministrado pelos Profs. Chris Evans e Joanne Carlyle, profissionais de excelência na gestão de casos de grande complexidade. Durante o Congresso propriamente dito, haverá oportunidade para mais de 80 profissionais e estudantes partilharem as suas ideias e os seus projetos nas várias sessões temáticas e também para assistir a quatro conferências com oradores de renome, todos envolvidos em projetos científicos de relevo internacional. Será acima de tudo uma tentativa humilde de aprender sobre um tema complexo e de trocar experiências com os vários ramos do Saber.

NF | A quem se destina e quantos participantes são esperados?
JGP | Destina-se a todos os profissionais de Saúde Mental, famílias e público em geral. Está aberto a todos os que tenham um interesse pela Saúde Mental e pelos temas em debate, sendo esperadas centenas de pessoas de Portugal e do estrangeiro. Temas já inscrições e manifestações de interesse de participantes dos quatro cantos do Mundo. A capacidade do auditório principal é de 464 pessoas, não falando dos dois eventos associados (pré e pós-congresso).

NF | “Intervention Triangle” é o mote deste evento científico internacional. Qual a importância da multidisciplinariedade entre a Neurobiologia, a Farmacologia e a Psicoterapia?
JGP | Hoje está mais na moda falar-se de “interdisciplinaridade”. Mas independentemente das modas, o que pretendemos demonstrar é que as barreiras entre profissionais se podem esbater quanto existe uma curiosidade genuína em aprender e descobrir, objetivos primordiais em qualquer Ciência. As “lutas” que ainda existem estão essencialmente ligadas a questões políticas, de acesso a emprego e a financiamento, aliados a um discurso do poder mercantilista e “higiénico”, onde o desconforto social da perturbação mental ainda não tem lugar. O que perturba demasiado deve ser colocado fora da vista e longe do coração. Na realidade, o que é complexo tem de ser visto de vários lados, e por isso escolhemos três grandes áreas transdisciplinares (a Neurobiologia, a Farmacologia e a Psicoterapia) que acabam por englobar a grande maioria das profissões envolvidas na Saúde Mental.

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NF | Quais os principais temas em destaque acerca desta tripla intervenção?
JGP | Este triângulo de intervenção desdobra-se, na realidade, em várias frentes ao longo do Congresso: desde a psicanálise à neurociência, passando pela terapia fenomenológico existencial, psicofisiologia, filosofia psiquiátrica, terapia familiar, psicofarmacologia, entre outros. Estão abertas submissões de trabalhos em várias áreas temáticas, basta consultar o site congress2016.fundacaords.org para mais informações.

NF | O programa científico já está disponibilizado no website do Congresso, contando com dois dias completos e múltiplas sessões paralelas. Quais foram os critérios de escolha dos temas?
JGP | Sim, o programa provisório está já disponível. Estamos agora a receber trabalhos de investigadores e profissionais de todo o mundo, que pretendem deslocar-se a Estremoz para apresentar os seus projetos. No fundo, quisemos englobar uma variedade de temas alusivos ao “triângulo de intervenção” sob diferentes perspetivas e dando lugar a vários formatos. Desde revisões de literatura, passando pela especulação filosófica até trabalhos que seguem uma linha mais empirista onde são esperados resultados “palpáveis” e concretos. Quisemos também dar voz às famílias e às pessoas que vivem dificuldades emocionais graves, tendo espaços programados de expressão dramática, poética e musical, meios que nos ensinam de outra forma.

NF | Gostaria de destacar alguma temática de relevância no programa?
JGP | Creio que todas são relevantes, as pessoas que as trazem é que farão a diferença.

NF | Após a primeira edição do Congresso, quais as expectativas da Comissão Organizadora para o II International Mental Congress?
JGP | A primeira edição foi um sucesso mais ou menos inesperado, dada a localização do Congresso e a juventude da Fundação Romão de Sousa (na altura com pouco mais de um ano de trabalho no terreno). A nossa expectativa é de que este II Congresso Internacional em Saúde Mental possa ajudar não só a abrir novos espaços de debate e de partilha, mas também quebrar um ciclo de centralidade nas grandes metrópoles, trazendo a uma região como Estremoz um evento de carácter e dimensão internacional.

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